“Saúde e Integridade no Alto Rendimento”. Foi este o tema central do Fórum organizado pelo Grupo TrueClinic e pela SIGA – Sports Integrity Global Alliance, em parceria com a Fundação do Futebol – Liga Portugal, que teve lugar, esta quinta-feira, no Arena Liga Portugal, e que contou com várias personalidades do futebol.

Numa sessão dividida em dois painéis distintos, começando por ‘A proteção da integridade física do atleta, implicações jurídico-legais’ e, numa segunda metade, ‘O atleta para além do ativo’, Reinaldo Teixeira, Presidente da Liga Portugal, deu o pontapé de saída na ordem de trabalhos, deixando desde logo a nota de que “a casa do Futebol Profissional é de todos”.

“Passar a mensagem sobre o Espírito de Integridade no Alto Rendimento é mais um passo que a Liga Portugal acredita ser essencial. Como podemos defender o atleta, tanto física, como mentalmente, e dotar as competições de condições para tal, são questões sobre as quais nos debruçamos diariamente. A transparência, os valores e o rigor são apanágio daquilo que são as nossas ideias e são parceiros como a SIGA que nos ajudam a manter estas virtudes. Não há nada no mundo tão intrusivo como o Futebol”, concluiu o representante máximo do organismo que tutela o Futebol Profissional, num arranque partilhado com Emanuel Macedo de Medeiros, CEO Global da SIGA e Presidente Executivo SIGA Europa.

“Estamos prestes a concluir um mês dedicado à integridade no desporto, com várias iniciativas e ações que deixam um legado. Não só aos clubes e atletas, como também aos que investem: patrocinadores, operadores televisivos ou sociedade civil. Só é possível porque há visão estratégica e de futuro”, começou por dizer, acrescentando:

“A saúde do atleta é o fator primordial onde tudo assenta. Os jogadores estão sujeitos a cargas muito exigentes. Os atletas não são máquinas. Por isso, esta discussão sobre saúde e integridade no alto rendimento é fundamental para a evolução deste ecossistema. É um desafio vital e de futuro. E nós estaremos sempre ao lado da Liga Portugal e de todas as Sociedades Desportivas, porque o Futebol português vale muito a pena”, rematou.

Feitas as introduções, Nuno Vieira, Diretor do Jornal ‘O Jogo’ e moderador do painel ‘A proteção da integridade física do atleta, implicações jurídico-legais’, passou a palavra a Jerry Silva, Advogado e Juiz-Árbitro do TAD. “Vivemos numa era de escravatura legalizada, transformando o jogador num robô. No entanto, Portugal está na linha da frente no que diz respeito ao enquadramento jurídico de um jogador profissional, que está assente em quatro grandes pontos: o trabalho que foi desenvolvido pelo União Europeia, a reformulação no quadro de proteção, o regulamento geral de proteção de dados e a aprovação da lei que veio regulamentar os danos emergentes dos jogadores profissionais. Somando ao que vem plasmado no contrato de trabalho, diria que, atualmente, o jogador profissional está bem protegido”.

De seguida, Júlio Marinheiro, Médico especialista em Ortopedia e Traumatologia, e Avaliador de Dano, afirmou que “seria interessante ser criado um passaporte médico único para cada atleta. Seria uma mais-valia, pois teria toda a informação médica de cada jogador e estaria disponível para os clubes que representam. Os atletas querem ver as suas lesões resolvidas, muitas vezes não estão preocupados em saber a extensão das mesmas, sejam elas físicas ou mentais. E há clubes que têm capacidade para as resolver e outros, por questões estruturais, não. Também por isso, é muito importante a existência de seguros de saúde para os atletas, pois garante-lhes proteção”.

Por sua vez, João Gonçalves, jogador profissional do AFS, relembrou que esteve afastado dos relvados durante muitos meses, fruto de uma rotura do ligamento cruzado anterior. “É uma lesão muito emocional e temos de lidar com vários fatores. Mas temos de arranjar soluções para ultrapassar essa fase menos boa, gerindo as expectativas de voltar o mais depressa possível e lidar da melhor forma com as melhoras que vamos tendo ao longo do processo. Só voltei a jogar um ano depois da lesão e, felizmente, agora tudo corre bem. Fica a resiliência de ter ultrapassado esta má fase, o crescimento e os momentos de superação”, finalizou.

No segundo tempo, foi a vez de se abordar ‘O atleta para além do ativo’, painel que contou com a moderação de Sérgio Krithinas, Diretor Executivo do Jornal ‘Record’. Jorge Andrade, antigo jogador profissional e Embaixador da Liga Portugal, tomou a palavra, relembrando que “a parte física é visível, mas o mais difícil não foi a primeira lesão, mas as seguintes, sobretudo na parte final da minha carreira. Mentalmente foi muito complicado, fiquei sem clube, mas tive ajuda de algumas pessoas e até comecei o curso de treinador. No entanto, a minha carreira foi boa, comecei no Estrela Amadora e terminei na Juventus, além de representar a Seleção Nacional. Estou orgulhoso da minha carreira, mas ciente de que mentalmente não estava preparado para enfrentar determinadas situações, nomeadamente nos tempos de recuperação das lesões.

De seguida, Vitor Gomes, atual Diretor de Futebol do Rio Ave FC, relembrou também os tempos de jogador profissional, afirmando que “durante muitos anos, jogar com dor era normal. Cresci com essa cultura e pelos países onde passei, não senti grande diferença. Os clubes queriam resultados e era o que mais interessava. Nos últimos anos, os jogadores têm deixado de ser tratados como “coisas” e começaram a tratar os jogadores por pessoas, pais de família e com sentimentos”, ressalvando que o futebol “é uma indústria que gera muito dinheiro e que muitas vezes leva a que sejam tomadas decisões de risco entre quem gere e quem joga, pois, um jogador pode ser muito importante para determinado jogo, mas pode estar a forçar ou a piorar uma lesão”. Por outro lado, o dirigente dos vilacondenses ressalvou o papel e a preocupação que a Liga Portugal e outras instituições do panorama desportivo nacional estão a ter, naquilo que é a instrução e preparação para o futuro e o pós-carreira dos atuais jogadores, mas também dos jovens que aspiram” a um futuro dentro das quatro linhas.

Já António Miguel Cardoso, Presidente do Vitória SC, abordou a importância de saber em que estado se encontra um jogador pelo qual se paga milhões, pois “para render em campo, há muitos fatores na equação. Além da qualidade técnica, os hábitos alimentares e as rotinas diárias também são fundamentais para o seu desenvolvimento. Da parte do clube, apesar de um atleta ser um ativo, acredito que há necessidade de formar plantéis grandes, devido aos quadros competitivos. Até para prevenir lesões, torna-se necessário diversificar a aposta nos jogadores em vez de apostar sempre nos mesmos”. Por outro lado, o dirigente máximo dos vimaranenses afirmou que “o excesso de jogos e o calendário sobrelotado é perigoso e pode matar o futebol. É muito importante os atletas e a restante estrutura terem férias, o parar é necessário”.

Por último, Miguel Gouveia de Brito, CEO da Trueclinic e Vice-Presidente da SIGA Council, “é preciso fazer prevenção. Não é algo palpável, que não se vê, mas na saúde temos um ‘outcome’, algo que virá. A nossa indústria de futebol assenta muito na exportação de talento, é uma das maiores fatias dos orçamentos dos clubes. Mas por trás do ativo que é o jogador, está um ser humano. E perante cada lesão, pode haver reações completamente diferentes, pois acredito que não existem doenças, mas sim doentes. Em Portugal, as Sociedades Desportivas já começaram a perceber que fazer este investimento nos Departamentos de Performance, não é um custo, mas sim uma garantia, pois perceberam que é importante preservar bem os seus ativos, para conseguirem estar em máxima performance”.

Saúde e Integridade em discussão no Arena Liga Portugal

Saúde e Integridade em discussão no Arena Liga Portugal