Lutar contra a corrupção no Desporto deve ser, mais do que um mero objetivo, um desígnio partilhado por todos aqueles que defendem os valores, inalienáveis, de integridade nas competições que organizam, seja qual for a modalidade que mais nos apaixone. Na Liga Portugal este combate transformou-se, quando assumi a presidência em 2015, numa prioridade absoluta, num caminho sem retorno rumo ao futuro do Futebol Profissional português.

Não há, nem concebo que possa haver, meias medidas quando falamos de corrupção do Desporto. E, cingindo-me agora ao Futebol em particular, a ideia é, para mim e para os que me acompanham na Direção Executiva da Liga Portugal, clara como água: a única solução é criar mecanismos que nos permitam erradicar, de vez, práticas menos transparentes, que possam, seja em que medida for, abrir portas à entrada de quem se queira servir do Futebol para outra coisa que não a promoção, projeção e crescimento da modalidade. É uma questão verdadeiramente vital se quisermos proteger competições, clubes, protagonistas e parceiros. E deve ser, por ser do interesse de todos, respondida em conjunto.

Não há, no Futebol ou em qualquer Desporto, espaço para quem apenas dele se queira servir para benefício pessoal.
Ciente da urgência e da importância deste combate transversal, a Liga Portugal procura fazer a sua parte e tem sido, nos últimos oito anos, absolutamente intransigente na defesa da integridade das competições que organiza. Não só com palavras, mas através de ações concretas e firmes, que não deixam qualquer margem para dúvidas quanto ao nosso empenho nesta luta.

Começámos por endurecer, sem contemplações, no nosso Regulamento Disciplinar, as punições para aqueles que prevariquem, ou tentem sequer prevaricar, neste assunto em concreto. Medidas que foram abraçadas de forma entusiástica pelos clubes que compõem o Futebol Profissional, que têm sido parceiros essenciais neste combate comum a todos aqueles que verdadeiramente amam o Futebol. A melhor forma de enfrentar, sem rodeios, fenómenos de corrupção, entre eles o match-fixing, é pelo exemplo, punindo sem qualquer tipo de contemplações os infratores.

Mas não ficámos por aqui. Seguros da relevância que o Futebol tem para a indústria das apostas desportivas, e também dos perigos que isso representa, em especial para jogadores em situações mais vulneráveis, identificámos a necessidade de reduzir riscos nos clubes que participam nas competições profissionais, que são hoje sujeitos a um apertado controlo financeiro, obrigados a apresentarem, de forma regular, comprovativos de inexistência de dívidas a treinadores e jogadores – bem como a diversas entidades e outros elementos do staff que compõem a equipa.

As sanções previstas para casos de incumprimento são pesadas e podem ir da perda de pontos até à impossibilidade de clubes que não preencham os requisitos financeiros necessários para honrarem os seus compromissos participarem nas competições organizadas pela Liga Portugal. E não se tratam, apenas, de palavras escritas em papel. Temos sido absolutamente intransigentes neste campo.

Trata-se, esta, de uma medida que visa o equilíbrio e a integridade dos campeonatos, mas também, não nos enganemos, absolutamente determinante para o combate à corrupção: treinadores e jogadores financeiramente estáveis são menos vulneráveis às muitas tentações que gente sem escrúpulos está sempre pronta para oferecer, aproveitando fragilidades que não se coadunam com uma liga profissional.

A ideia, para a Liga Portugal, é simples: um futebol mais forte, com clubes financeiramente mais sólidos, estará sempre mais protegido contra fenómenos de corrupção.

Mas não nos contentámos com a implementação de regras mais duras. Porque sabemos que a punição, como exemplo, é apenas uma parte do caminho que temos de percorrer. A outra, igualmente importante, reside na prevenção. Não vale a pena, num tema tão importante como aquele de que estamos a falar, varrer o assunto para debaixo do tapete. É preciso falar dele. Expô-lo. Explicá-lo a todos, em especial àqueles que ao longo da sua carreira com ele poderão deparar-se, de forma direta ou indireta. Dar-lhes informação sobre o que está em causa. Explicar-lhes como devem atuar se um dia forem colocados face a qualquer situação que os deixe desconfortáveis. Treinadores e jogadores informados terão sempre melhores condições para atuarem, e denunciarem, casos de aliciamento.

Com isso em mente a Liga Portugal fez também questão de promover, em conjunto com outras entidades que nos acompanham nesta preocupação conjunta, ações de formação contra o match-fixing destinadas todas as 34 equipas que compõem as duas provas profissionais por nós organizadas – a que acrescentamos, todas as épocas, os clubes que sobem dos escalões não profissionais –, de forma a dotar os plantéis de ‘armas’ mais capazes para uma luta em que desempenham, indiscutivelmente, um papel determinante.

Mas sabemos também, na Liga Portugal, que não chega punir duramente comportamentos desviantes ou informar treinadores e jogadores para os perigos que podem encontrar durante a sua carreira.

Para exigir que outros cumpram é necessário ser o primeiro a cumprir.

Outro dos lemas que abraçámos em 2015 foi, portanto, o de liderar pelo exemplo. Mostrar o caminho. Estar na linha da frente neste combate. E é por isso que implementámos também uma série de diretrizes e processos de controlo internos que refletem, de forma inequívoca, aqueles que são valores de que não prescindimos. Valores como ética, integridade e transparência. E pelos quais nos guiamos em todas as nossas atividades diárias. Desde a mais básica à mais complexa. Sem facilitismos.

Uma política da qual não nos desviamos um milímetro e com resultados à vista.

É com orgulho que digo, como Presidente, que a Liga Portugal se tornou, em 2021, a única entidade desportiva portuguesa distinguida com a Norma ISO-37001 – Sistema de Gestão Anticorrupção, que foi, no final de 2022, renovada. Um reconhecimento do trabalho que temos realizado e que, naturalmente, muito nos honra.

Mas também uma distinção que nos dá ainda maior responsabilidade.

Estamos, contudo, cientes de que a credibilidade que, com muito esforço, mas também grande determinação, conquistámos ao longo deste percurso nos permite liderar hoje em Portugal, junto dos nossos Clubes e dos nossos parceiros, a luta contra um dos maiores adversários que o Futebol já enfrentou.

É, sabemos disso, uma luta diária. Uma batalha sem fim. Um combate em que não nos são permitidas distrações. Uma guerra contínua. Mas que, estou plenamente convicto disso, estamos a vencer. E vamos ganhar!

Pode consultar AQUI a versão integral do Sport Integrity Journal, da SIGA.

Uma luta sem tréguas que vamos ganhar - Artigo de opinião de Pedro Proença

Uma luta sem tréguas que vamos ganhar - Artigo de opinião de Pedro Proença