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Ana Teresa Rocha: “Cada pessoa tem de ter perfeita consciência da situação que vivemos”

Liga Portugal | 25/03/2020
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As últimas semanas constituem um cenário ímpar na história do futebol português. A necessidade de reajustar o trabalho das equipas, em virtude do impacto do COVID-19, constitui um desafio de grande exigência para todos os departamentos médicos das 34 equipas que compõem os quadros das competições profissionais.

A LigaPro não é exceção à regra, e Ana Teresa Rocha, médica do CD Mafra, é um dos rostos por trás das diligências adotadas pelo clube da região Oeste. Para a profissional de saúde, responsável pelo departamento médico do emblema mafrense, é “indispensável que as pessoas mantenham a calma”, uma vez que o crescimento da curva epidemiológica “será uma tendência que se irá continuar a verificar durante os próximos tempos.”

Como tem acompanhado o desenvolvimento do COVID-19 em Portugal?

Nesta fase já se notam bastantes alterações, inclusivamente no normal funcionamento do hospital onde trabalho. Eu sou da área da Ortopedia e nós temos operado a traumatologia toda do Centro Hospitalar, de forma a libertar camas nesse hospital para os doentes com COVID-19.

Quanto ao desenvolvimento dos números, é inegável que a curva epidemiológica continua a crescer e penso que esta será uma tendência que se irá continuar a verificar durante os próximos tempos. Penso, no entanto, que é impossível traçar uma estimativa do quanto irá crescer, uma vez que desconhecemos o pico desta, nem tão pouco sabemos qual o impacto que esta situação irá ter nas pessoas e na sociedade.

Que medidas adotou o CD Mafra de forma a dar resposta a esta situação?

O CD Mafra encerrou temporariamente todas as suas atividades. A partir do momento em que se realizou a primeira reunião da Comissão Permanente ficou claro de que esta seria a melhor solução. No dia seguinte a esta reunião, todos os jogadores foram convocados para comparecerem no estádio, de forma a que lhes fosse comunicada esta decisão.

Desde direção do clube, a equipa técnica e jogadores, todos têm estado em casa, desde essa altura. Mantemos um acompanhamento dos nossos atletas, que são avaliados duas vezes por semana do ponto de vista clínico, tendo sempre como preocupação perceber se eles, ou alguém da família, apresenta alguma sintomatologia.

Relativamente à componente física o nosso preparador elabora planos específicos para cada jogador, atendendo a toda a uma série de fatores próprios da condição de cada atleta. De referir ainda que, dentro deste plano, todos os jogadores têm indicações para saírem apenas para correr de dois em dois dias, sozinhos, e em áreas isoladas.

Como têm os jogadores lidado com uma mudança tão profunda naquilo que é a sua rotina de trabalho?

O nosso plantel é constituído maioritariamente por jogadores oriundos do Norte do país, pelo que, de certa forma, acredito que seja reconfortante para eles estarem de volta a casa, onde têm a oportunidade de estarem com as suas respetivas famílias.

Há sempre essa vertente humana a pesar na balança, mas penso que com o previsível aumento do tempo de interrupção competitiva acabarão por começar a sentir saudades, mais tarde ou mais cedo, como qualquer pessoa sente saudades de um trabalho que gosta de fazer.

Já do ponto de vista físico ainda não sabemos qual vai ser a resposta quando a competição for retomada, algo que vai depender um pouco do mindset individual de cada um, em cumprir aquilo que lhe foi pedido.

Quais a principais recomendações para a nação portuguesa?

É essencial lavarem as mãos com regularidade, manterem-se em casa, e saírem apenas em casos de extrema necessidade.

Cada pessoa tem de ter perfeita consciência da situação que vivemos e deve ponderar bem a necessidade de casa saída que efetua. No caso da ida às compras, penso que estas devem ser efetuadas tendo uma estimativa de duração para 15 dias, se necessário.

Por fim, é indispensável que as pessoas mantenham a calma. Ou seja, caso apresentem febre, ou qualquer outro sintoma característico desta doença, devem gerir esta situação a partir de casa, e evitar corridas aos serviços de saúde, pois certamente que o risco de contrair este vírus será muito maior aí.