O COVID-19 impede Pedro Martins de estar com os filhos, mas não de apelar à união das famílias portuguesas. O momento é de criar laços (ainda) mais fortes e “mostrar sentido de responsabilidade”, diz o treinador do Olympiakos FC, que recentemente fez história no clube grego, ao eliminar o Arsenal FC

Até que esta situação seja ultrapassada, todos temos o dever de seguir instruções de quem sabe e, com a família longe, aquele que jogou em clubes como CD Feirense, Vitória SC, Sporting CP, Boavista FC, Santa Clara e FC Alverca, e treinou o Marítimo M., Rio Ave FC e Vitória SC, pede para as pessoas desenvolverem relações pessoais “de forma diferente”.

Como está a viver a situação do COVID19? Como sente que está a cidade de Atenas a as pessoas?

Sinto que as coisas aqui em Atenas as coisas estão muito semelhantes ao que se está a passar em Portugal, sendo que até o número de habitantes é idêntico. Quanto às instruções que temos recebido, tenho a sensação de que os governos estão em sintonia com a União Europeia e as instruções que existem em Portugal existem aqui também, por vezes, apenas com uma diferença de 24 horas. Mas são todas muito similares e tenho vivido dentro da normalidade. Tenho passado o meu tempo em casa, como toda a gente, com sentido de responsabilidade e aguardando mais instruções sobre como a nossa vida pode alterar.

Sente que a melhor decisão foi mesmo a suspensão da maioria dos campeonatos?

Esta claramente foi a melhor decisão, porque espera-se que ainda venha o pior, o pico do próprio vítus será daqui a uns dias ou semanas. Mas continua a haver muitas dúvidas. Percebo perfeitamente que não se tome medidas drásticas de forma a proteger a economia e os empregos das pessoas, a sua sobrevivência… Tudo isto é uma luta dos políticos e dos responsáveis por estas medidas, no entanto, estão a acautelar as populações de forma a evitar mais contágios, que vão ser inevitáveis. Mas não estão a tomar medidas drásticas como o fecho das fronteiras, inibir as pessoas de circular livremente… Tudo isto tem gerado dúvidas.

Que cuidados tem tido?

Passo os meus dias em casa. Ontem, excecionalmente, tive uma reunião somente com o Diretor Geral do clube. Tenho lavado as mãos frequentemente, dou a devida distância relativamente às pessoas que estejam a partilhar o mesmo espaço que eu e evito as aglomerações. De resto, passo praticamente o meu tempo todo em casa, exceto quando tenho mesmo de sair, de forma inevitável.

Que planos de treinos foram dados aos jogadores do Olympiakos?

Os jogadores do Olympiakos são, naturalmente, uma das minhas grandes preocupações. Temos plano de treino para uma semana, mas sabemos que estas decisões vão ser tomadas em pouco tempo, semana a semana, de forma a também acompanhar as medidas que os responsáveis máximos têm para as populações. Neste momento, temos um plano de treino para eles fazerem em casa durante uma semana e, depois, vamos ter de adaptar-nos a uma outra realidade e ao próprio momento, pois os jogadores, passado uma semana, já começam a ter outro tipo de défices e temos de nos adaptar desta forma. É nosso dever respeitar as recomendações de entidades oficiais, de forma a protegermos as pessoas que nos são queridas, e os outros. Neste momento, o mais importante é a nossa saúde e a saúde da nossa população. Isso sim, é muito mais importante do que um jogo de futebol, embora isto mexa com toda a gente, pois o futebol é apaixonante, mas de facto há outras prioridades e eu vejo que essa consciência existe, quer na Grécia, quer em Portugal. É uma questão de sobrevivência.

A infeção do Yaniis Moralis, presidente do Olympiakos, foi uma situação com a qual não foi certamente fácil de lidar…

Sim, é do conhecimento público que o presidente do Olympiakos está infetado com o coronavírus. Quando estivemos com ele foi 15 dias antes, em Inglaterra, no jogo com o Arsenal, portanto não temos casos positivos dentro do plantel. Nas vésperas do jogo com o Wolverhampton, toda a gente fez análises e toda a gente acusou negativo. Espero que os jogadores tomem as medidas e as precauções necessárias de forma a evitar a propagação do contágio. O caso que vivemos por dentro foi com o nosso presidente e sabendo que só tivemos o contacto com ele praticamente 15 dias antes do jogo, foi algo que, de certa forma, nos tranquilizou.

Que conselhos se dão nesta altura a um adepto de futebol, num momento em que a saúde (pública) é a prioridade?

Eu infelizmente não posso estar com os meus filhos, mas se tivesse a oportunidade de estar com eles, ia aproveitar o tempo de qualidade ao máximo. Tarefas não faltariam… Digo isso, não só aos adeptos do Olympiakos, mas também aos adeptos do futebol em geral e agora aos portugueses. Estejam em família com as pessoas que mais amam, desenvolvam essas relações de forma diferente. Nós nunca temos tempo e desta forma somos obrigados a ter esse tempo.

"Estejam em família com as pessoas que mais amam"

"Estejam em família com as pessoas que mais amam"